Quando você passa pela estreita estrada de mão dupla que lhe dá acesso, sua imponente presença se faz notar e o teu pescoço gira automaticamente para observar aqueles azulejos azul e branco, aqueles tijolos vermelhos à vista tão bem distribuídos e servindo de fundo para a bela e rebuscada decoração que adorna as janelas. Creio que até mesmo as pessoas do princípio do século jamais se acostumariam com tanta formosura, jamais lhes passaria desapercebido aquele conjunto que, muito mais que curar aos que ali eram internados, sanavam os olhos dos transeuntes que por ali passavam carentes de visão da verdadeira beleza.
O Instituto Pere Mata foi construído entre os anos de 1897 e 1906 pelo arquiteto Domènech i Montaner, com a colaboração de vários artistas, artesão, carpinteiros e outros profissionais que juntos souberam dar o seu melhor àquele que seria até o ano de 1986 um instituto de cura de enfermos mentais. Hoje em dia o instituto cresceu e está constituído de 19 pavilhões, e este o qual tenho o prazer de mostrar alguns de seus detalhes que pude captar com as lentes de minha câmera, é o pavilhão antigamente denominado “pavilhão dos ricos”, por ser destinado à classe alta da sociedade. Inclusive, havia distinção de riqueza dentro. Os mais abastados ficavam no primeiro piso.
A arquitetura é do Modernismo Catalão, e traduz em suas fachadas e interiores uma manifestação um tanto original do estilo Art Nouveau, que nesta época estava em seu apogeu.
Atualmente se acessa pela parte posterior da edificação, mas nem se percebe, pois um amplo jardim te abraça com boas vindas, e dá para uma fachada que te tira o fôlego pela formosura de seu detalhes.
A parte central da fachada ostenta um pórtico cuja galeria é sustentada por colunas que possuem capitel de flores, e seu interior está revestido de azulejos pintados à mão a meia altura, que vão até os marcos das portas e janelas que ainda têm um acabamento na parte superior com um retângulo também de azulejos pintados à mão.
As muitas janelas que se vêm acima do pórtico dão para o interior do edifício, em um grande corredor, permitindo que a luz natural entre por praticamente todo o prédio.
A parte mais proeminente da fachada está ricamente decoradora com painéis de azulejos azul e branco, contornados por preciosas estruturas em estilo neogótico. Chamam muito a atenção as duas figuras esculpidas em forma de leões alados nas duas esquinas. A rosa, símbolo da cidade de Reus, está presente em todo o edifício por fora e por dentro.
Seu interior está dividido entre áreas de entretenimento, um salão de refeições e um grande corredor que leva às habitações. O acesso atual ao interior se dá por um pequeno átrio. A sua direita, as escadas, e em frente ao átrio, a Sala de Jogos onde antigamente se jogava cartas, xadrez e bilhar. A Sala de Jogos está decorada com painéis de madeira de roble que circunda todo o recinto a meia altura, adornada com marchetaria de rosas que também aparecem no esgrafiado1 da parede e no teto, que é curvo e tem pintura feita à mão nos azulejos que o revestem, e do qual pende uma enorme luminária no típico desenho da época industrial.
Saindo da Sala de Jogos, a esquerda, está o mais espetacular ambiente do edifício: a Sala de Estar. É um recinto quase quadrado, rodeado por um mezanino que possui uma balaustrada de cristal amarelo, com uma espiral de ferro forjado dentro, e um corrimão de madeira. Neste mezanino, um grupo de músicos da cidade distraía os internos com um concerto ou baile aos domingos.
O seguinte recinto é o Refeitório, uma sala com capacidade para 50 pessoas. A comida chegava através de uma abertura que conectava com o exterior, uma vez que a comida vinha de outro pavilhão, e era distribuída por todo edifício com um carrinho.
O Refeitório e decorado com mosaicos de laranjas nas paredes e no armário, e se repete o tema nos azulejos que decoram o teto além de aplicações cerâmicas que, assim como na Sala de Jogos e na Sala de Estar, formam fitas que lembram os arcos modernistas. No cruzamento de cada fita, há um círculo com flores dentro. Há janelas muito altas e verticais cobertas com vitrais coloridos que terminam em um arco levemente ogival, como em quase todas as janelas voltadas para o exterior. Os armários feitos sob medida para o espaço, assim como os demais móveis de todos os ambientes do edifício, também são decorados com marchetaria. Igualmente pende do teto uma linda luminária de ferro forjado e vidro soprado, com lâmpadas que representam laranjas. Um trabalho espetacular com cerâmica pintada à mão cobre a parede a meia altura; as colunas e o restante das paredes possuem desenhos feitos em esgrafiado que vão até o teto.
Em seguida vamos para o segundo andar. Subimos pelas escadas decoradas com azulejos pintados à mão, e com uma janela com vitrais coloridos feitos com filetes de chumbo e estrutura de ferro, o que impede os internos de quebrá-los. Os degraus também têm seu espelho revestido por cerâmica em relevo na cor mostarda. O arquiteto quis eliminar ao máximo a sensação de clausura.
Cada quarto é decorado de forma exclusiva, ou seja, não há dois iguais, assim como seus banheiros e a pequena sala que o antecede. Há pintura no teto e nas paredes que combinam com o design dos móveis em marchetaria. O piso é revestido com ladrilho hidráulico, também exclusivo em cada dormitório. O acesso a esses quartos se dá através do grande corredor que citei no início, e que tem vista para o amplo jardim na entrada do terreno. O vaso sanitário e o lavatório são de cerâmica branca pintados à mão como era a moda naqueles dias. Alguns quartos que não possuem banheiro, têm armários com lavatório integrado. O espaço é amplo e sempre há uma ampla janela que se abre para o exterior.
Como diziam as pessoas na época em que o pavilhão estava em uso “você vai se sentir como se estivesse em um hotel de luxo”. O melhor em decoração e conforto foi destinado ao pavilhão dos ilustres, tanto que a parte que seria construída para abrigar as mulheres não pode ser executada devido a problemas de orçamento. Então, o que antes era exclusivo dos homens, passou também a receber mulheres.
Hoje, o Instituto Pere Mata tem uma parte atendida pelo serviço público de saúde em seus outros pavilhões. É um centro de referência em tratamento psiquiátrico na Europa.
Ficamos surpresos com a forma como os internos eram tratados naquela época em relação às instalações do edifício, o que parece impossível nos dias atuais, apesar de todas as investigações que demonstram que a qualidade do ambiente interfere diretamente na recuperação do paciente .
Ser capaz de apreciar um edifício histórico dessa magnitude é um privilégio. A Espanha se esforça muito em preservar seus monumentos, mas são tantos que às vezes alguns escapam dos cuidados.
Aprecie agora, abaixo, mais algumas das fotografias do espaço. Saúde para você!
Fotos: Maria Pilar Arantes – Institut Pere Mata, Reus, Catalunha, Espanha.