Na edição de maio da conceituada revista AU Arquitetura e Urbanismo, eu faço uma análise sobre nosso momento estético no design de interiores, depois do impacto que o estilo minimalista teve sobre o design e consequentemente sobre a indústria em todo o Ocidente (e também em muitos países do Oriente Médio e Extremo Oriente). Compartilho aqui um pouquinho do texto e algumas imagens que utilizei. Aconselho animadamente a que se faça a assinatura da revista digital para acompanhar este e tantos outros artigos sobre arquitetura, urbanismo e design através desta fonte que oferece informaçõe atualizadas e confiáveis há mais de 3 décadas: Revista AU: https://revistaau.com.br/
Com tanta bagagem no nosso baú de conhecimentos sobre os cânones estéticos, desde a mais antiga história da manifestações artísticas do homem até depois da grande mudança que a industrialização causou no mundo e nas artes, assim como as descobertas de novas tecnologias impulsionadas pelas trocas de conhecimentos, vejo que um novo movimento rege a estética contemporânea no design de interiores. Não se trata de algo rígido como uma ordem tal como as da Grécia antiga (dórico, jônico, coríntio, etc.), mas um movimento que é resultado do rumo intenso, frenético e extenuante para o homem e natureza que a humanidade seguiu, principalmente a partir do século XIX. Nos surpreendemos com nossa capacidade intelectual, com nosso poder criativo, e também nos deparamos com nossa indiferença ao sofrimento de outros humanos e da natureza que nos sustenta. Temos vivido dois séculos e meio de grandes surpresas, avanços e contradições. As artes revelam isto…aliás, revelam tudo! As artes são a grande “bola de cristal” que nos avisam sobre quem somos, como estamos e a que caminho nos dirigimos.
Esta introdução um pouco dramática que é para chamar a atenção ao fato de que ao longo de nossa jornada humana temos refletido bastante sobre o passado, e tentamos fazer projeções sobre nosso futuro. Vimos dando nome aos fenômenos, às guerras e aos movimentos do homem em todas as áreas da vida; não seria diferente com o design de interiores, esta micro-área tão importante para nós, desde que habitamos as cavernas.
Este artigo tem a intenção de indagar e refletir sobre o seguinte: qual é nosso “movimento” hoje, na segunda década do século XXI, do ponto de vista estético-conceitual no design de interiores? Chegaremos a ter um “rótulo”, tal como outras linguagens estéticas, como foi com o mais recente “Vintage”, ou indo mais para trás, como tiveram os estilos clássicos Luis XV, Chippendale, Art Nouveau, etc.?
Esta reflexão deixa em aberto a questão da nomenclatura; mas claramente se posiciona em relação a eventos do passado recente que mais influenciaram nosso presente: a escola da Bauhaus e o Minimalismo que podem explicar as atuais preferências estéticas.
Em meu livro “Fundamentos da estética em design de Interiores”, explico no capítulo destinado ao estudo dos estilos da decoração de interiores, o que é o Minimalismo. Reproduzo parte do texto a seguir:
” No design de interiores o estilo Minimalista passa a manifestar-se a partir de fins dos anos 1980, tendo forte presença a partir de 1990. O estilo Minimalista no design de interiores tem suas origens tanto na influência estabelecida pela Bauhaus, quanto no Minimalismo das artes plásticas. Para o design de interiores, a Bauhaus aportou todo conhecimento e consciência a respeito do básico: o básico para se projetar, e o básico para se possuir nos interiores. (…) O ambiente Minimalista possui somente o essencial para o desenvolvimento das funções naquele espaço. Os espaços Minimalistas também possuem poucos objetos, de forma a não causar “distrações” na percepção do ambiente.”
(ARANTES, 2019)
Entre os estilos considerados modernos (Art Nouveau, Art Déco, Vintage, Futurista) o Minimalismo impulsionado pela Bauhaus foi aquele que transformou de forma mais radical o design de interiores; seu impacto se deu na micro escala (no nível do usuário) e na macro escala (no nível da indústria).
No seu início o Minimalismo adotou um caráter bastante frio e impessoal no design de interiores. A composição deveria reduzir-se ao mínimo necessário, eliminando os adornos acrescidos à superfície ou nela estampados. A tendência era utilizar o branco ou os tons mais claros de marrom em praticamente todas as superfícies. Os contrastes entre os demais elementos visuais como textura, forma, linha, tom e cor foram colocados temporariamente de lado, adotando-se como linha diretriz o máximo da neutralidade: a repetição da mesma forma (geralmente as básicas, como quadrado e círculo); uso da mesma cor ou de suas vizinhas mais próximas no círculo cromático e sem contraste tonal; e eleição da textura lisa, causando o mínimo impacto visual devido à eliminação de fortes contrastes em geral.
A linguagem neutra dos materiais invadiu a produção das indústrias que lançou no mercado peças que podiam incorporar-se em composições que já tinham outros estilos incluídos, sem criar um conflito visual entre elas devido ao quão neutra se apresentavam as novas peças minimalistas (sofás, cadeiras, mesas, tapetes, objetos, revestimentos de piso, entre outros).
Assim foi até princípios do ano 2000, quando algumas mudanças começaram a surgir como a aplicação de algumas cores com mais contrastes e em tons saturados, às vezes em uma parede, outras vezes em componentes da decoração e alguns discretos objetos adicionados à composição. Tudo muito discreto, quase sem acrescentar elementos clássicos, rústicos ou étnicos, que são os que mais peso visual possuem (devido aos seus desenhos, à sua superfície trabalhada, ou cores e linhas excêntricas).
Com o passar dos anos deste século XXI, como acontece historicamente nas artes em geral, o ciclo da neutralidade parece que saiu de seu ponto máximo e passou a adotar uma nova estética menos rígida.
(Final do artigo) A fase de PÓS-MINIMALISMO no design reflete, como as artes em geral, o movimento de ação e resposta do homem em relação aos diversos fatores da vida, dando uma visão holística da atualidade.